Uma tarde-noite com ¾ de casa de um público festeiro e com vontade de aplaudir, valorizaram de igual modo o que era passível de exaltação e o que era sim de reprovação. A despedida do excelente forcado Manuel Pires, aforro do Grupo do Ramo Grande, desde a sua formação, foi a mais emotiva demonstração de empatia que o público teve para com os homens das jaquetas.
Verdade seja dita o toureio a cavalo, saiu em bom plano de Angra! João Moura Caetano, fez gala de um toureio pausado, com momentos de brega extraordinários, dando primazia à cravagem ao estribo. Andou pausado respeitando os tempos e lidando os toiros, tudo dentro do seu conceito heterodoxo do toureio a cavalo. Tudo o que fez foi com bom gosto em duas aplaudidas lides pelo público terceirense.
David Gomes andou correto, tem um bom conceito de lide, procurando lidar o touro, numas formas toureiras verdadeiras e simples, procurando as reuniões ao estribo e no centro da arena. A sua primeira faena foi corretíssima, mas devido a desacerto na reunião no número do ferro de palmo, veio a menos. A segunda lide terminou com um bom par de bandarilhas.
Temos que dizer que o curro estava bem apresentado, apresentava um toiro com 3 anos (o primeiro) e 5 de quatro anos, daí que a designação tenha sido fixada como novilhada o que causou algum desconforto entre os presentes. A cavalo lidaram-se animais de João Gaspar, bem apresentados, lidáveis mas com pouca chispa e emotividade, a pé 2 de Rego Botelho, 3º manso rachado à primeira tanda, 6º nobre, repetidor e com recorrido, faltando-lhe humilhar um pouco mais.
Chegou altura de vos falar de António Ferrera, toureiro de valorosa trajetória em algumas alturas da sua carreira autêntica figura, mas que na Ilha Terceira não fez mostra destes predicados. No primeiro touro andou lidador, porfiando com o toiro na querença e tirando partido da capacidade de humilhar do toiro… no entanto tudo demasiadamente pouco pausado procurando o contato com as bancadas. Já no sexto touro, fica-nos a sensação que o animal tinha mais investidas para oferecer e que o toureiro se preocupou mais com o entretenimento do público do que propriamente com o tourear, sentir-se e aí sim fazer rejubilar os tendidos. Pouco muito, pouco…muita parra e pouca uva!
No fim o número da saída em ombros de Ferrera foi despropositado, arrastando consigo o forcado Manuel Pires… bem esteve o Diretor de Corrida que mandou encerrar a porta grande e mesmo sem consentimento, lá Ferrera saiu pela porta de quadrilhas…lamentável.
O público da Ilha Terceira merecia mais respeito. Tolerou ao matador as intervenções durante as pegas dos forcados, mas já não lhe consentiu a saída em ombros.
Pelos forcados em tarde de despedida do cabo Manuel Pires, abriu praça o próprio com boa execução à primeira tentativa, Rui Dinis cabo atual à segunda, Gonçalo Batista à segunda tentativa e César Pires com a pega da noite à primeira.
Tudo isto no dia 19 de julho, numa tarde-noite de tempo excelente.
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Texto: Mafalda Gomes Lemos
Fotografias: Paulo Gil