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José Albino Fernandes: 100 Anos de Memória, Legado e Emoção Açoriana

No coração da Ilha Terceira, onde a tradição se entrelaça com a alma de um povo que vive e sente a Festa Brava como parte intrínseca da sua identidade, celebrou-se um momento que ultrapassou o mero simbolismo cronológico: o centenário do nascimento de José Albino Fernandes, ganadero, empresário, antigo cavaleiro tauromáquico amador e presidente do Lusitânia, mas sobretudo um homem cuja vida se confundiu com a própria história da tauromaquia açoriana.

O ano de 1925, deu homens importantes à cultura! Figuras como Dias de Melo, o picaroto que nos encheu  alma com as suas histórias de vida e nos desafios das comunidades baleeiras açorianas, refletindo a dureza e a beleza da existência insular; o extraordinário matador de toiros da Golegã Manuel dos Santos, ídolo fora e dentro da praça que a todos vincou na sua existência taurina e extra-taurina; Carlos Paredes guitarrista e compositor que revolucionou a guitarra portuguesa, criando um repertório original que influenciou gerações de músicos; vultos impressionantes que marcam a nossa cultura mas também a nossa forma de viver de sermos portugueses e açorianos. José Albino Fernandes foi um desses homens, à nossa escala arquipelágica foi um aglomerador de povo, o altruísmo da sua ganaderia a bandeira de uma sociedade e testemunho vivo de que os legados podem não ter duração finita.

O passado dia 5 de abril foi um dia de emoções simples mas transversais, repletas de bom gosto e boa disposição! O Clube de Golfe da Ilha Terceira foi o palco escolhido para o jantar comemorativo deste centenário, um espaço que naquela noite fria deste estranho abril, se transformou num autêntico templo de memórias, afetos e homenagem. A sala, decorada com uma simplicidade elegante, espelhava a essência do homenageado — homem de poucas vaidades, de trato afável, mas de convicções fortes e presença marcante. Não eram precisas opulências: bastaram as fotografias, os sorrisos, a emoção nos olhares e a presença calorosa de amigos, familiares e aficionados para tornar o ambiente verdadeiramente inesquecível.

Num clima de afetividade e camaradagem, o jantar decorreu entre lembranças e emoções, entre histórias partilhadas e silêncios carregados de significado. José Albino Fernandes, apesar da sua ausência física, estava ali presente em cada gesto, em cada palavra, em cada gargalhada solta que ecoava pela sala. O seu legado, corporizado na Casa Agrícola José Albino Fernandes — a ganadaria mais acarinhada dos Açores —, vive não apenas nos toiros que continuam a honrar o seu ferro, mas também nas pessoas que mantêm viva a sua memória e a sua obra.

O ponto alto da noite surgiu com as intervenções das suas netas, Susana e Sónia, que, com voz firme mas emocionada, falaram do avô com ternura, orgulho e um brilho no olhar que dizia mais do que mil palavras. As suas palavras tocaram corações e fizeram vibrar a sala, recordando o avô como um exemplo de integridade, amor à terra, e dedicação à tauromaquia.

Seguiu-se o testemunho comovente de Fátima Fernandes, filha de José Albino, que falou não apenas do ganadero, mas do pai, do homem de família, do ser humano que soube cultivar amizades duradouras, respeitar os valores que importam e construir um legado que atravessa gerações. As suas palavras foram recebidas com uma sentida ovação, numa sala onde o respeito e a admiração transbordavam.

Entre os presentes, muitos rostos conhecidos do mundo taurino, aficionados de todas as idades, figuras da sociedade terceirense e amigos de sempre, que fizeram questão de prestar o seu tributo a uma figura que ajudou a moldar a identidade cultural da ilha.

José Albino Fernandes não foi apenas um ganadero de mérito reconhecido. Foi um pilar da Festa nos Açores, um entusiasta do toiro bravo e da arte equestre, um homem que nunca virou costas às suas raízes e que sempre acreditou na força do campo, da tradição e da comunidade. A sua ganadaria, símbolo de raça, bravura e autenticidade, é até hoje a mais querida dos Açores — e não por acaso. É o reflexo da sua visão, do seu rigor, e do seu amor profundo por esta terra.

Este centenário foi mais do que uma celebração. Foi um reencontro com a história, uma reafirmação de valores e um tributo sincero a um homem que, com humildade e paixão, deixou marcas que não se apagam. Em cada lide, em cada toiro que sai à praça com o ferro da Casa Agrícola José Albino Fernandes, renasce um pouco do seu espírito. E enquanto houver Festa, haverá memória. E enquanto houver memória, José Albino Fernandes será sempre o ganadero do povo da Ilha Terceira.

Texto: José Paulo Lima
Fotografia: Edgar Vieira

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