Feira de São Miguel em Coruche: Quando nem os pregões fazem efeito. Crónica de Francisco Potier Dias sobre a corrida de ontem à tarde.
Ontem, a Praça de Touros de Coruche, edificada junto às margens do Soraia, abriu portas para o seu último festejo do ano, desta feita por ocasião da tradicional feira de São Miguel.
Apesar de todo o investimento em propaganda para apregoar este festejo e do cartel efectivamente aliciante, o público voltou a não preencher a monumental de Coruche como em tempos de outrora, tendo registado 1/3 de casa, com mais público nos setores de sombra.
Em praça os cavaleiros Manuel Telles Bastos, Francisco Palha e António Telles filho e os grupos de forcados Amadores de Vila Franca de Xira e de Coruche, medindo forças com seis imponentes toiros das ganadarias Canas Vigouroux e Dr. António Silva, que celebra esta temporada 80 anos de atividade.
Abriu praça Manuel Ribeiro Telles Bastos, trajando casaca bordô bordada a ouro, a “jogar em casa”, levou por diante um toiro de António Silva, em primeiro, e um de Canas Vigouroux, em segundo.
No que às lides diz respeito, em ambas as lides, andou sem grandes exuberâncias, apostando no toureio clássico, sem conseguir ligar-se ao público, acabando por isso por deixar pouco na retina.
Francisco Palha apresentou-se em Coruche trajando casaca azul escura, bordada a prata, e no primeiro do seu lote tentou abrir desde logo o livro, recebendo de porta gaiola, conseguindo cravar com emoção, no entanto, consentiu toque violento na montada. Na restante lide desenhou uma atuação redonda, no timbre ginete, com sortes ajustadas e forte capacidade de transmissão de emoção ao publico.
No segundo do seu lote brindou o público de Coruche com a melhor lide da tarde, com sofisticado toureio e desenhando sortes de muitíssima boa nota, destacando-se das restantes atuações da tarde.
António Telles Jr, o mais novo da dinastia Ribeiro Telles, trajando casaca vermelha bordada a ouro, desenhou duas lides de boa nota nesta sua passagem por Coruche.
Na primeira lide procurou brindar o público de Coruche com temple e correção nas sortes, sendo no entanto, uma lide com pouco “sal” não tendo deixado história.
Já na sua segunda lide, muito bom toureio se viu por parte do ginete da Torrinha, recebendo o toiro sem bandarilheiros em praça, toureando e aguentando o toiro, seguindo para uma série de cumpridos de boa nota e em curtos soube desenhar bem as sortes e cravou com correção e temple.
Relativamente ao toureio de jaqueta, calção e meia branca, tivemos uma tarde de emoções e demonstração de bem pegar!
Pelos amadores de Vila Franca de Xira, abriu praça o forcado Rodrigo Andrade, bem de frente ao toiro em ambas as tentativas, reunindo com saber, tendo o toiro desviado ao grupo e faltado ajudas na primeira e o forcado não aguentando a mangada na segunda, tendo consumando à terceira tentativa com ajudas carregadas.
Para o segundo do grupo de Vila França, em praça o forcado Vasco Carvalho, de frente ao toiro esteve bem o forcado, tendo uma primeira tentativa com uma reunião violentíssima, tendo ainda o forcado aguentado uma viagem duríssima, suportando três duras mangadas sem se conseguir fechar e o grupo entrar, acabando por sair da cara sendo dobrado, por lesão no ombro, pelo forcado André Câncio que, à segunda tentativa, com ajudas carregadíssimas, consumou à terceira tentativa esta pega do terceiro da tarde.
Para fechar a tarde, pelos amadores de Vila Franca, o cabo Vasco Pereira, que perante toiro esteve mandão, respeitando todos os momentos da pega e aguentado uma viagem “cómoda”, com o grupo a fechar com competência consumando à primeira tentativa.
Pelos amadores de Coruche, abriu praça o forcado João Formigo, de fronte ao toiro esteve correctíssimo, respeitando todos os momentos da pega, mandando de forma imponente na investida andarilha deste Canas Vigourox, tendo recuado e consentido a reunião de forma exímia, aguentando a viagem fechado de pernas e com o grupo a ajudar bem, permitindo consumar à primeira tentativa.
Para o segunda dos forcados amadores de coruche, em praça o forcado João Mesquita, que brindou ao elemento Diogo Boieiro, que se retirou devido a lesão. De fronte ao toiro andou correcto, citando com calma e reunindo com galhardia, aguentando uma viagem dura, com o grupo a fechar bem e a consumar à primeira tentativa.
Fechou a tarde pelos amadores de Coruche o forcado Frederico Pinto, que se estreou a pegar na sua terra. De fronte ao toiro esteve mandão, respeitou todos os momentos da pega e reunião com galhardia, aguentando uma viagem duríssima sem se deixar ficar e com ganas e com o grupo a fechar com eficácia, consumou à primeira tentativa com a monumental de Coruche em pé.
Um desabafo final, para o vazio que deixa ver a não adesão do público coruchense, bem como, a frieza do mesmo durante o espectáculo.
Por certo, há algo a repensar e, pessoalmente, não creio que passe por “publicidade de baixo orçamento”, nem por utilização excessiva e desadequada de IA desvirtuando a mística da praça, que sim, também se sente desde o design do cartel até à sua composição.
Texto e Fotografia: Francisco Potier Dias