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Vila Franca: E depois do Adeus, de Rui Salvador?

Vila Franca: E depois do Adeus, de Rui Salvador? Ficam as memórias de um artista único, impactante e que marca indelevelmente a tauromaquia.

A Praça de Touros Palha Blanco acolheu, esta terça-feira – 8 de Outubro – a corrida mais importante da feira de Outubro deste ano.

Primeiro por ser a única – a mista foi cancelada e não abordarei essa polémica neste texto – mas também pela despedida das arenas de Rui Salvador e a alternativa do jovem Diogo Oliveira.

O restante cartel contou com João Moura, António Ribeiro Telles, Rui Fernandes e Miguel Moura. Pegou, em solitário, o grupo de forcados amadores de Vila Franca de Xira.

Nesse sentido, destacar ainda o concurso de ganadarias com reses de Veiga Teixeira, David Ribeiro Telles, Vale Sorraia, Conde Murça, Jorge de Carvalho e Mata-o-Demo.

Um cartel que na teoria me parece irrepreensível e inatacável na sua composição, talvez aqui ou ali com alguma falta de sensibilidade na escolha de um dos intervenientes. Mas, adiante.

Rui Salvador é, indiscutivelmente, um dos cavaleiros que marcará para sempre gerações e que permanecerá na memória dos aficionados da festa brava.

Consegue-o pelo trajecto, pela postura e por tudo o que fez nas arenas deste país, actuando de norte a sul e ilhas (na Terceira então tem o seu nome cravado a ouro), e também além-fronteiras.

Numa arte por vezes robotizada e fria, Rui Salvador despertou emoções em todos aqueles que o viram actuar. Também o fez com aqueles que tiveram possibilidade de o ouvir.

Quanto ao jovem Diogo Oliveira, esta era a noite mais aguardada da sua ainda curta vida profissional no toureio a cavalo. A da alternativa.

Assim, nada melhor que doutorar-se através das mãos de Rui Salvador, numa praça com a importância da Palha Blanco e num cartel recheado de qualidade. Tudo para ser uma noite histórica.

Não de menor importância, a terça-feira noturna da feira de Outubro é marcada pela exaltação ao forcado vilafranquense, com o grupo da vila a pegar em solitário.

Em tempos idos, Oração foi um dos temas que eternizou Carlos Zel no Fado.

Por isso confio ao fado
Que è amigo dedicado
As penas do coração
Pego na guitarra e canto
E ás vezes este meu pranto
Faz lembrar uma oração

Nesse sentido, pegando em parte da letra, a emoção vivida na despedida de Rui Salvador soou mesmo a oração, tal a profundidade da mesma e a forma indelével como marcou, certamente, todos os presentes.

Adeus Rui Salvador

Assim, 3/4 de casa preenchidos numa noite com vento e a chuva a ameaçar (porém, não se concretizou) foi o resultado da bilhética desta corrida.

Antes das cortesias, actuou o Rancho Folclórico Avieiros de Vila Franca de Xira e, seguidamente, a fadista Teresa Tapadas (interpretando Avé Maria e Cavalo Alazão).

Do mesmo modo, realizaram-se homenagens ao cavaleiro Rui Salvador por parte da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca de Xira, Associação Nacional de Toureiros e da empresa Tauroleve.

Após 30 minutos de cerimónia, realizaram-se as tradicionais cortesias.

Rui Salvador concedeu alternativa a Diogo Oliveira e nesse sentido foi o jovem cavaleiro a abrir praça.

Fê-lo diante de um touro da ganadaria Conde de Murça e enfrentou algumas dificuldades, perante um oponente manso, tardo na investida e com arreões de mansidão. A juntar a isto a montada do cavaleiro, na fase de ferros compridos, não ajudou. Diogo Oliveira conseguiu cumprir a função de forma positiva, não isenta de erros, destacando-se em dois ferros curtos, o melhor de todos foi aquele com que encerrou a lide, depois de um também 2º curto. Sorte para o novo cavaleiro, a quem reconheço qualidades superiores às que exibiu na Palha Blanco.

João Moura lidaria um touro de Jorge de Carvalho, porém o touro foi mandado devolver aos curros pela direção de corrida. Ainda assim, não se conseguiu ver nada de errado no comportamento do touro em praça. Tal situação gerou muito mal-estar no público da Palha Blanco.

Ou seja, a ordem de lide seguiu o seu curso e actuou António Ribeiro Telles, perante um touro de Veiga Teixeira. Uma actuação que começou mal, na fase de compridos, com muita irregularidade e falta de acerto na colocação dos ferros. Porém, a actuar na sua praça, António Ribeiro Telles encastou-se e subiu a fasquia nos curtos, dois ferros de muito mérito e valor. Terminou depois um pouco mais abaixo, ainda assim numa lide positiva, sem atingir patamar de triunfo.

Rui Salvador despediu-se das arenas, lidando um touro de David Ribeiro Telles. Um touro manso, parado e que obrigou o cavaleiro a porfiar. E na despedida, Salvador teve ainda mais encanto, fruto de um labor que levou o touro a reagir com arreões de mansidão. O cavaleiro teve 3 curtos de excelente nota, desde a preparação até à reunião. Saiu em apoteose e com o público de pé, ovacionando-o prolongadamente. Uma actuação plena de raça, entrega e a fazer jus a todo o seu percurso. E agora? Como ficaremos sem Rui Salvador nas arenas? Pior certamente. Restam as memórias e essas são intemporais!

Juntamente com a família próxima e a quadrilha, despediu-se emocionado, dando ainda duas voltas à arena, após a lide.

Após uma breve pausa para alisamento da arena, actuou João Moura, perante um touro sobrero de Veiga Teixeira, com 490 Kgs. Actuação em tom positivo, embora pouco estética dadas as limitações de conhecimento geral. Ainda assim, óptimo entendimento do oponente, dois ferros curtos de qualidade acima da média e o publico a reconhecer o valor do monfortense. Perante um oponente parado, Moura não defraudou.

Rui Fernandes lidou um touro de Mata-o-Demo, de comportamento complicado e que se mostrou inicialmente muito andarilho e distraído, atento a tudo o que se movia. Paciente, testando a investida e sem receio de passar duas vezes em falso, tudo isso serviu para a partir daí fazer uma serie de curtos baseada na boa brega, classe em tudo o que fez e com três curtos de muito boa nota. Pausado, estético e com inteligência, Rui Fernandes desenhou lide meritória em Vila Franca, que nem alguns toques retiram importância.

Miguel Moura desenhou a melhor actuação da noite, fruto também de um touro que investia de todo o lado, tinha alegria e bravura. O cavaleiro recebeu-o com uma sorte gaiola (com ferro a resultar algo traseiro) e a partir daí deu uma aula de cátedra. Os dois primeiros curtos são de nível superior, a brega foi pujante fazendo da sua montada uma verdadeira muleta, tal a elasticidade e temple. O público aplaudiu bastante o jovem Moura, perante uma actuação de muito valor. Falta-lhe acrescentar um pouco de estética a um toureio de muito valor e torna-se um caso epopeico nas arenas.

Seguidamente, como referido no início deste texto, o grupo de Vila Franca pegou em solitário e à cara foram Miguel Faria (à primeira tentativa), Rodrigo Camilo (à primeira tentativa), Vasco Pereira (ao primeiro intento), Salvador Corrêa dobrou Rodrigo Andrade (à 3ª tentativa efectiva), André Câncio (1ª tentativa) e Guilherme Dotti (à 5ª tentativa).

Ou seja, uma noite positiva, com valor, mas não redonda.

Veiga Teixeira vence concurso de ganadarias

Além disso, a ganadaria Veiga Teixeira (com o touro lidado por António Ribeiro Telles) venceu o prémio bravura e apresentação do concurso de ganadaria, após decisão do júri composto por João Folque, Vítor Pantaleão e Tiago Gomes. Uma decisão muito discutível

Por fim, corrida foi dirigida por José Soares, assessorado por Jorge Moreira da Silva e com José Henriques no cornetim.

Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Carlos Pedroso

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