Procuna, Velasquez, Casquinha, Cuqui, D’Alva e Gonçalo Alves em entrevista ao site Tauromaquia.com.pt.
No dia 23 de fevereiro, Luís Vital Procuna, Nuno Velasquez, Nuno Casquinha, Joaquim Ribeiro ‘Cuqui’, João D’Alva e Gonçalo Alves estiveram à conversa com os aficionados presentes, e moderação do comentador taurino Maurício do Vale, no Aposento do Barrete Verde, em Alcochete.
Nesse sentido, também nós tivemos a oportunidade de os entrevistarmos. Ou seja, Procuna, Velasquez, Casquinha, Cuqui, D’Alva e Gonçalo Alves em entrevista sobre os sonhos e os desafios.
Assim, abaixo, apresentamos as declarações prestadas pelos 4 matadores e 2 novilheiros.
Entrevista a Joaquim Ribeiro “Cuqui”, Nuno Velasquez e Nuno Casquinha
Ser matador de touros em Portugal pode ser considerado um desafio às leis do sucesso, visto não termos tantas corridas com toureio a pé?
Cuqui: Ser matador de toiros em Portugal é, sem dúvida, um desafio às leis do sucesso. O toureio a pé, sendo menos frequente no nosso país, exige uma entrega absoluta, uma paixão inabalável e uma luta constante contra as circunstâncias. Mas é precisamente nos desafios que se forjam os grandes triunfadores. A história ensina-nos que aqueles que se superam e elevam a sua arte acabam por abrir caminhos onde antes parecia não haver passagem.
Velasquez: É sempre mais complicado nascer num país onde o toureio a pé não tem tantos espetáculos taurinos como noutros países. No entanto, quando se pensa em ser matador de touros, não se pensa em tourear apenas em Portugal. Pensa-se em tourear em todos os países onde se realizem espetáculos taurinos.
A dificuldade que pode existir em Portugal é que a nossa tauromaquia está direcionada, ou a maior parte está direcionada, para outro tipo de espetáculo, que neste caso é o espetáculo com cavaleiros e com forcados. Mas eu não duvido que, quando aparece alguém com interesse, o espetáculo misto ou o espetáculo com matadores de touros também tem o seu interesse e o seu público.
Casquinha: Eu penso que sim, que é um desafio. Ser toureiro a pé é sempre um desafio em qualquer país. Em Portugal, temos a dificuldade de haver muito poucas corridas mistas com toureio a pé, e isso acrescenta dificuldades.
Mas há outros países que também têm as suas dificuldades, mesmo que tenham mais corridas. Ou seja, há sempre desafios em qualquer lado. Eu prefiro sempre ver a parte positiva da coisa. Para mim, todo o país tem as suas dificuldades, e nós temos as nossas.
No entanto, eu penso no que eu posso fazer: dar o melhor de mim, treinar todos os dias e, se realmente houver oportunidades, eu aproveitar cada uma delas ao máximo.
Qual o momento mais desafiador da carreira?
Cuqui: Na vida de um toureiro, os desafios são constantes, mas talvez o mais exigente seja o de conquistar e manter o reconhecimento.
Houve momentos de sacrifício, de dúvidas, de luta contra as adversidades, mas cada obstáculo superado tornou-me mais consciente do que significa verdadeiramente ser matador de toiros.
Velasquez: Desafiador, eu acho que foi depois de tomar a alternativa, porque tive a sorte de, como novilheiro, tourear muito e muitos espetáculos importantes e com um ambiente também muito bom. E como matador de touros as coisas tornam-se muito mais difíceis, tanto em Portugal como noutros países, neste caso em Espanha.
E o maior desafio era precisamente esse: conseguir depois continuar a tourear como matador de touros.
Casquinha: Penso que o momento mais desafiador foi quando deixei o meu país, a minha família, e fui para o Peru. Foi uma experiência completamente nova, um grande desafio.
Depois gostei, embora tudo fosse muito diferente do que estava habituado. O que era para ser uma estadia de dois meses acabou por se tornar em cinco anos.
Foi muito desafiante, porque foi sair da minha zona de conforto e ser forte em muitos momentos de solidão. Mas deu-me muito: fortaleceu-me mentalmente, deu-me confiança em mim mesmo. Foi uma etapa bonita e que deu os seus frutos.
O que gostava que fosse feito pelo toureio a pé em Portugal?
Cuqui: Gostaria que houvesse mais oportunidades para o toureio a pé em Portugal, que se promovesse e incentivasse esta vertente com o respeito e a dignidade que merece. O público português tem uma sensibilidade especial para a arte, e sempre que se lhe apresenta um espetáculo de qualidade, responde com entusiasmo. É preciso acreditar, investir e dar visibilidade ao toureio a pé para que possa ocupar o lugar de destaque que merece na tauromaquia do nosso país.
Velasquez: Eu penso que se tem feito um muito bom trabalho com as escolas taurinas que temos. Neste caso, tanto o Cuqui como o Casquinha, como a escola José Falcão estão a fazer um excelente trabalho.
E deveriam haver mais, deveriam existir mais escolas. Deveriam ser apoiadas mesmo pelas empresas, por outras coletividades e clubes taurinos, para a promoção de novos artistas.
Casquinha: Como disse há pouco no colóquio, mais do que pensar em mim, penso nos jovens que estão agora nas escolas de toureio.
Vejo isso mais claramente agora, porque estou com a Escola de Toureio das Lezírias, e realmente há muito poucos espetáculos “menores”, como garraiadas e novilhadas populares. Havia muitos quando eu comecei, e ainda apanhei a última fase em que se toureava bastante. Agora, esses espetáculos não existem.
Os jovens hoje em dia treinam apenas em tentaderos, e é difícil dar o salto para as novilhadas populares e garraiadas, porque simplesmente não há. E depois torna-se ainda mais complicado avançar para Espanha sem ter toureado quase nada em Portugal.
Portanto, o que mais me preocupa é essa falta de oportunidades. Oxalá que venham a surgir mais oportunidades para esses jovens que querem ser toureiros.
Entrevista a Luís Vital Procuna
O que o motivou a seguir a carreira de toureiro?
Procuna: Bom, isto tudo começa naquela ilusão de criança, de miúdo. Era muito novo e vivia na Moita e, por sorte, ao pé da praça de touros. As nossas brincadeiras, desde muito pequeno, eram nas largadas e a fugir dos toiros. Um fazia de toiro, o outro punha uns pares de bandarilhas, mas claro, tudo naquela inocência de brincar ao toiro.
Até que a coisa começou a entrar mais dentro de mim quando o Júlio André, que é bandarilheiro, treinava na praça de touros para se preparar para as corridas que tinha. Eu era muito amigo do filho dele, o Ricardo André, que na altura também começou a crescer como toureiro, e começámos a frequentar a escola.
Na verdade, nem era uma escola ainda, íamos só para fazer companhia. Mas começámos a pegar no capote e a desenhar alguns passos, com a maestria do Júlio André. Até que, passado alguns anos, o mestre Armando Soares e o mestre Júlio André pensaram em formar uma escola, porque já éramos uns seis ou sete miúdos a crescer como toureiros.
Lembro-me, por exemplo, do Belmonte, que hoje em dia é bandarilheiro, e do filho do mestre Júlio, que não conseguiu avançar mais, mas ainda chegou a tourear. E assim, sucessivamente, fomos aparecendo mais miúdos.
E qual foi o momento mais desafiador da sua carreira? Foi quando teve de parar?
Procuna: Bom, desafiante, desafiante… Vamos lá ver. Parar não foi bem um desafio, foi um desafio forçado. Tive que parar, infelizmente, pelo problema de saúde que tive. Não foi por opção, mas por necessidade.
Para mim, o momento mais desafiador da minha carreira foi chegar à alternativa. Quando começamos, sonhamos com esse dia, mas parece estar tão longe que nos perguntamos: “Será que um dia conseguimos?” E quando chegou, para mim, foi das maiores alegrias que tive. Desafiante no bom sentido.
Por outro lado, o momento mais difícil foi ter que abandonar a minha profissão, a minha carreira, algo a que me dediquei a 100%. Deixar tudo aquilo que era a minha paixão… e continua a ser.
E como se sentiu no dia 26 de outubro, na sua estreia a cavalo em praça?
Procuna: Bom, isso também foi um grande desafio. No início, quando me convidaram para esse festival, eu achava que ia ser algo mais à porta fechada, de amizade e não tanto para espetáculo e para público. Mas, quando percebi que era um espetáculo para o público, tomei essa responsabilidade quase como se fosse uma corrida de matadores de touros.
Temos sempre uma imagem a defender. E, mesmo que fosse a cavalo, que não é a minha profissão, nunca me passou pela cabeça ir ali fazer má figura ou que as coisas não corressem bem. Isso mexeu muito comigo, porque tinha pouco tempo para me preparar. Há quase três anos que não montava e nunca tinha toureado a cavalo. Era um desafio muito grande.
Mas penso que consegui entrar nesse papel e desenrolá-lo limpo e com dignidade. E foi um gosto enorme voltar a sentir o público, a praça e aquele calor… Para mim, o mais maravilhoso foi isso. Depois de tudo o que me aconteceu, sentir esse carinho foi de outro mundo.
Como se sentiu no dia 26 de outubro, na estreia a cavalo em praça? Vamos poder vê-lo mais vezes nessa função?
Procuna: Pois, essa função foi mesmo só para aquela data. Não digo que não possa acontecer outro dia, mas, neste momento, não tenho planos para isso. Já falaram comigo para outros festivais, para tourear a cavalo, mas neste momento não é a minha intenção.
Aceitei porque era uma data especial e, infelizmente, o Velasquez nesse dia não pôde porque foi operado. Foi mais a ideia dos antigos da minha época, tourearmos um novilho e estarmos juntos e voltarmos a ter essa conexão entre todos e estar numa tarde de toureio todo e divertir-nos.
Neste caso, o Velasquez não pôde. Mas daqui para a frente, não estou a pensar desenrolar esse papel, mas nunca se sabe. Foi só um ponto na temporada e um ponto na minha vida que gostei e que adorei… mas foi só um aparte.
Entrevista a Gonçalo Alves e João D’Alva
O que motivou a seguir esta carreira?
Gonçalo: O que me motivou foi, desde pequeno, ver o meu pai a tourear e ver as corridas de toiros na televisão. A afición vem da família e da terra onde nasci, Alcochete.
João: Tudo vem a partir de um ambiente familiar muito taurino que sempre me incutiram o que era o mundo do touro e foi um mundo que desde os meus 8 anos me apaixonei e comecei a treinar para atingir o objetivo de um dia chegar a matador de touros.
Quando é que vos poderemos ver este ano?
Gonçalo: : Este ano estão para surgir datas em Portugal, Espanha e França. O objetivo principal é Espanha e França, mas também haverá datas em Portugal.
João: Esta temporada 2025 espera-se muito positiva é possivelmente a minha última temporada no escalafón de novilheiros o que nos faz ter mais moral a continuar este sonho. Relativamente a datas estamos a fechar datas importantes mas de momento nada confirmado, mas assim que sejam divulgadas e confirmadas os aficionados serão os primeiros a ser informados.
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