A festa de toiros é um tipo de ofício, uma ocupação lúdica que se imiscui no quotidiano individual de alguns aficionados. Para muitos a tauromaquia é uma diversão, para outros um meio de vida, para outros ainda um legado familiar e, para alguns uma ocupação esporádica. No meio de tanta diversidade há histórias com trajetos de vida curiosos e no mínimo passíveis de serem revelados a muitos que o desconheciam.
Pedro Miguel da Silva Miranda faz-se aficionado em casa de Humberto Filipe, seguindo de mão dada com o pai os trabalhos no mato desde pequeno. Esse entusiasmo era familiar e o pai Pedro Rodrigues Miranda era já pastor da ganaderia, percurso que o filho sempre ambicionou seguir. É no ano de 1995, com 15 anos que Pedro Miranda se estreou à corda da casa de bravo das Cinco Ribeiras, na localidade da Serra da Ribeirinha, pelas Festas de Espírito Santo, usando indumentária de outros pastores mais antigos que a forneceram com agrado. A camisola e o chapéu, pertenciam ao conhecido João Fininho das Cinco Ribeiras, onde o sombrero castanho sobressaía dos demais. Abriu-se no alto da Ribeirinha uma história, que passados quase trinta anos, ainda não cessou. Nesse primeiro dia ocupou posição na pancada, mas o certo é que passado uns dias, foi pastor de novo, desta vez na Ilha Graciosa, na meia corda.
É pela casa de bravo de Humberto Filipe que Pedro Miranda, demonstra muita paixão! O popular Tio Humberto, era para ele um amigo verdadeiro, sempre pendente dos seus homens da corda e do mato e das suas necessidades, prezando-os, e tendo por eles sentimento de gratidão pela sua ajuda. Com o velho ganadero muito aprendeu e muito ensinamentos leva-os para a sua vida enquanto homem.
Na meia corda de Humberto Filipe, partilhou durante 25 anos, experiências com homens de grande competência! Nomes como João Vicente, José Manuel Sousa , filho de Humberto Filipe, marcam-no profundamente pelos ensinamentos que lhe transmitiram. Quando havia oportunidade de se colocar atrás destes importantes mestres de corda eram os dias que mais desfrutava e que lembra com mais gosto. Como nisto de ser pastor passa por uma aprendizagem constante, figuras como José Manuel Rodrigues são indeléveis, para Pedro Miranda, pela excelência como manobravam os toiros no arraial e pela sabedoria com que o faziam, antevendo reações e exacerbando comportamentos positivos dos toiros.
Pedro Miranda é de gente que sempre andou à corda de toiros. O pai e os tios José e João e os primos Rogério e José Miranda, fazem-no ainda hoje com afinco, pelos arraiais da nossa terra, demonstrando um apego aos bons modos dos pastores da cepa antiga. A colhida mais grave que Pedro Miranda sofreu aconteceu no Juncal em 2005, onde o pastor ficou preso por um pé com a corda, enquanto era corrido o famoso 64, que nesse mesmo instante salta para um cerrado quase decepando o pé do pastor nascido na Ribeirinha. A tragédia só não aconteceu pela pronta ajuda de Manuel João Rocha e Arlindo Duarte que reagiram com rapidez ao momento. Foram 15 dias de inatividade por causa desta situação que poderia ter sido de gravidade maior.
Pedro é operador de máquinas, mas a verdade é que se sente pastor de corpo e alma, mas os seus dois filhos, Pedro e Beatriz, de 16 e 21 anos, não nutrem o mesmo entusiasmo do pai pela festa brava mas respeitam as opções que já vêm do avô. A enteada de Pedro de 11 anos, é sim uma entusiasta fervorosa da festa de toiros e da casa de bravo de Humberto Filipe, facto curioso que potencia a relação entre os dois.
As vicissitudes da vida levaram-no à emigração na Inglaterra, mas a verdade é que não havia dia nenhum que no final da jorna em terras de Sua Majestade, o pastor não terminasse o dia olhando o que se passava em termos taurinos na Ilha Terceira, seguindo as redes sociais e plataformas de streaming em busca da sua terra natal.
Os sustos, as amizades, as viagens e os momentos que a festa de toiros lhe proporcionou, mantêm-no ainda no ativo na ganaderia de Filho de Humberto Filipe, como um dos esteios desta casa nas touradas ao redor da Ilha Terceira.
Pedro Miranda uma história de paixão pelo toiro e pela atividade de pastor que vale a pena conhecer.
Texto: Dr. José Paulo Lima
Fotografias: Paulo Gil