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Segunda-feira, Abril 21, 2025
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Uma nova marca taurina

É um facto provado que a emigração leva no coração um pedaço da sua terra cravada ao peito, qual sintoma de identidade que orienta quem empreende a melhoria das suas condições de vida em geografias onde a prosperidade, e a cultura de vida podem ser melhores. Os açorianos são um povo emigrante em constante mobilidade, disperso pelo mundo inteiro e que leva como grande bandeira a cultura do Espírito Santo… e já agora o carnaval e a tauromaquia.

Um dos grandes pontos aglomeradores da nossa comunidade na América do Norte é sem dúvida a tauromaquia! Tanto nos E.U.A., como no Canadá a festa brava junta açorianos e à volta deles muitos portugueses em festas que são autênticas romarias, onde se vive, se sente, se canta e sobretudo se fala em português. Este fenómeno estabeleceu ganaderias, ou pelo menos protótipos delas, deu lastro a pastores que seguiram das ilhas e imagine-se até tem cavaleiros, forcados e matador de alternativa que mostra pujança de uma comunidade, que tal como a extensão das terras americanas, aumentou tudo à sua proporção. É claro que o papel festivo dos terceirenses foi e é fundamental em todo este processo e a verdade é que já se debate a continuidade desta tradição que já conta com a 3ª e 4ª geração com bastante efetividade.

Da Ilha Terceira levaram-se as rivalidades ganaderas, e por lá se as manteve com as casas de bravo criadas. Conservaram-se os usos e costumes mais antigos e com regularidade são muitos os protagonistas da festa que são solicitados a andar cá e lá tentando mimetizar o que por cá se passa. Falo dos nossos cavaleiros, dos nossos forcados, mas também dos nossos capinhas que cruzam meio Atlântico para oferecer a um povo ávido um pouco do que por cá se passa.

Se a emigração para o Brasil de finais a meados do século XIX gerou receita suficiente para alguns indivíduos, sobretudo da Ribeirinha, se tornarem detentores de terra e gado, tornando-se criadores de toiros bravos como os senhores da cidade, hoje em pleno século XXI assistimos a um caso no mínimo curioso pejado de vários pontos de análise, feitas à volta do toiro e do sentir terceirense. O fenómeno da nova ganaderia terceirense Quinta do Olé toiro é essa circunstância.

Os finais do ano de 2024 trouxeram a notícia, circulada nos meios mais populares, que um canadiano emigrante, havia comprado uma das ganaderias terceirenses mais antigas ainda em atividade. Falamos de Fernando Marques que adquiriu a ganaderia de Eliseu Gomes, legado do antigo criador de toiros já desaparecido Álvaro Inácio Gomes, homem conhecidíssimo do meio taurino terceirense.

O novo ganadero de S. Brás fez com tal pompa e circunstância que a algazarra, surgida nos canais de streaming online mexeram com aquilo que foi o defeso taurino popular terceirense. Falou-se de uma marca, há música sobre ela, e até se criou como ícone uma figura terceirense com alta penetração social nos media online terceirenses e da diáspora…falo de Ivo Silva claro! O que parecia uma, e perdoem-me o termo, tarraçada dos diabos é hoje do conhecimento geral de toda a comunidade terceirense, sendo precisamente nos arraiais da Ilha Terceira onde os toiros, antes pertença de Eliseu Gomes irão correr. Fez-se um bailhinho de Carnaval de sucesso garantido e a verdade é que a marca está lançada e de vento em popa… genial convenhamos, um caso de estudo de marketing!

A verdade é que Fernando Marques já leva toiros no Canadá há muito tempo, faz as suas touradas à corda canadianas, com bastante regularidade e até a sua imagem parece ser fácil de prender a atenção, uns em jeito de admiração, outros de caráter mais brejeiro. A marca está nas bocas do povo, e é ver os aficionados mais antigos, céticos a ver no que dá….

Falando de toiros tive a oportunidade do na manhã do passado sábado, aproveitar o esplendoroso dia que nos brindava a incipiente Primavera para me deslocar ao mato terceirense, ao solar do nosso toiro bravo, cada vez mais condicionado territorialmente pelo aparecimento de inúmeras explorações agropecuárias em seu redor que, que como é natural, exploram também o interior terceirense. Com o Pico de Bagacina ao fundo fui recebido com interesse e simpatia: pelo maioral Manuel Silva, coadjuvado pelo seu sogro Roberto Silva e pelo forcado Fabrício Rico que nos desvendaram aquilo que é o efetivo da ganaderia Olé Toiro Terceira. Claro que a presença indispensável também nesta visita, e regular em praticamente o que se passa nas pastagens Olé Toiro, é, Ivo Silva! Digamos que o gestor de marketing da casa é uma figura afável e que emprestou um cunho de humor e perspicácia a esta esplêndida visita à ganaderia.

Para quem o toiro é uma forma de levar e encarar a vida como o meu, é sempre um regalo comtemplar os animais a campo, ver o seu comportamento pascenteiro, a sua fisiologia normal em pastagem onde tudo se faz de forma natural e onde se consegue entender com propriedade a importância e utilidade da sua criação.

Num efetivo composto por cerca de 20 toiros corridos, quase dúzia de puros e três dezenas de vacas, os animais luziam um aspeto lustroso, conducente com os cuidados alimentares impostos pelo proprietário e maioral, uma verdadeira dádiva visual para um entusiasta como eu.

Prevêem-se, segundo informações dos cuidadores da ganaderia, quase duas dezenas e meia de touradas contratadas um pouco por toda a ilha, o que revela a efetividade da mensagem que, entretanto, foi criada em torno da marca Quinta do Olé Toiro. Há uma ferra agendada para 12 de Abril, amplamente divulgada por todo lado, com influências do lado de cá e de lá do Atlântico, numa divulgação no mínimo suis generis e com uma forte vertente extra-taurina. Disse-me Ivo Silva, sem divulgar grandes pormenores, qual show-man de renome, que ele próprio iria ser um dos atuantes, mas que o irmão do ganadero iria atuar entre outras surpresas que irão ser reveladas a seu tempo… isto da inovação tem muito que se lhe diga, a verdade é que esperemos para ver o que trará esta ferra, momento que na ganaderia brava é dos mais tradicionais e importantes no maneio de uma casa de bravo.

A marca está aí, a ganaderia está falada e o gado pela sua impecável presença promete a continuidade da divisa preta e vermelha nos arraiais terceirenses essa é que é essa…

Texto: Dr. José Paulo Lima
Fotografias: Paulo Gil

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