Nazaré: 3 saídas em ombros e a ideia de que a exigência nem sequer existe nesta praça do país, com um público exageradamente festivo.
Texto: Rui Lavrador
Fotografias: Carlos Pedroso
A corrida estrela da temporada tauromáquica da Praça de Touros da Nazaré realizou-se, este sábado- 3 de Agosto, perante casa cheia, embora sem lotação esgotada.
Um cartel misto, composto pelos cavaleiros António Ribeiro Telles e António Telles [filho], o matador Borja Jiménez e o novilheiro Tomás Bastos, além dos forcados amadores de Vila Franca de Xira.
Lidaram-se touros de Condessa de Sobral, a cavalo, e Manuel Veiga, a pé.
Começando pelos touros, destacar que os de Manuel Veiga apresentaram-se justos de peso, embora enquadrados para a praça em questão, com comportamentos distintos, sendo o pior aquele que Tomás Bastos lidou em primeiro. Porém, os touros de Condessa de Sobral surgiram bem mais pesados, com comportamento complicado e deram que fazer aos dois cavaleiros.
Antes da corrida, assinalou-se uma homenagem do maestro Rui Sousa ao empresário Rui Bento Vasques, pelo trabalho desenvolvido na Nazaré, em específico nesta praça de touros.
O toureio a cavalo abriu e fechou a corrida, primeiro com as lides a solo dos cavaleiros, rematando a noite com a lide a duo.
António Ribeiro Telles enfrentou um complicado touro de Condessa de Sobral. Bem na fase da ferragem comprida, com destaque para o segundo de excelente nota e dando vantagem ao touro. Na ferragem curta, o touro ganhou querenças e levou o cavaleiro a algumas passagens em falso e um ou outro toque na montada, baixando o nível da actuação.
Rafael Plácido, pelos amadores de vila Franca de Xira, foi dobrado após primeira tentativa com violentos derrotes, acabando lesionado. O grupo efectivou ao segundo intento, por André Câncio.
António Telles (Filho) enfrentou um touro mais colaborante, embora sem ser fácil ou dócil. O ginete esteve muito seguro e lidador, desde a ferragem comprida, até à curta. Destaque para dois excelentes ferros curtos, com reuniões ajustadas, após excelente preparação das sortes. Porém, não devia ter acedido a cravar mais um ferro curto, evitando assim as passagens em falso, antes de deixar um palmito. Por vezes, não se deve aceder aos pedidos do povo.
Vasco Carvalho, pelos amadores de Vila Franca, concretizou a pega ao primeiro excelente intento.
Na lide que encerrou a noite, saiu mais um complicado touro de Condessa Sobral. E aqui há a destacar e louvar a atitude de António Ribeiro Telles. Percebeu a dificuldade do touro, a ponto de um forte encontrão contra tábuas, e deu prioridade a que fosse o seu filho a destacar-se nesta actuação. E assim foi, Telles [filho] cravou os melhores ferros desta lide, com o seu pai a “cumprir” no resto da função.
Lucas Gonçalves, pelos amadores de Vila Franca de Xira, concretizou a pega ao primeiro intento.
Quanto ao toureio a pé, triunfo claro e destacado de Borja Jiménez, triunfador da Feira de San Isidro, em Madrid, e que veio à Nazaré entregar-se por completo.
Borja Jiménez foi aplaudido antes de iniciar a faena e soube construir uma actuação toda ela de nível alto e a sacar as melhores qualidades do touro que teve por diante. Recebeu por Verónicas, evoluiu para chicuelinas e rematou com uma belíssima meia Verónica. Bonito quite de Tomás Bastos. Eficiente esteve a sua quadrilha nas bandarilhas. Na muleta, Borja esteve poderoso e dominador durante toda a actuação, aqui e ali com laivos de classe, ensinando o touro a investir, mesmo quando este não queria. Nazaré rendeu-se ao espanhol e por mérito. Tandas por ambos os lados, sendo a profundidade e poder as maiores armas.
No seu segundo touro, voltou a arrimar-se e a mostrar que estava aqui para triunfar na sua estreia nesta praça.
Faena muito completa deste o capote à muleta, explorando tudo o que o touro tinha para oferecer, nunca prolongando em demasia as tandas e sabendo os momentos em que com um simples olhar soube provocar reações no público. Está num grande momento na Nazaré provou-o.
Por fim, o novilheiro Tomás Bastos, que teve um primeiro oponente com menos qualidade. Porém, Tomás não esteve brilhante nem ao nível que já apresentou. Bem no capote, com muita suavidade, fazendo tudo a ‘despacio, arrojado no tércio de bandarilhas, com três pares em que foi forte o impacto nas bancadas. Para finalizar, na muleta proporcionou uma faena em tom regular, salvando-se um ou outro momento de maior valia.
Frente ao segundo oponente, Tomás conseguiu estar um pouco melhor. Tem um par de bandarilhas com muito mérito, alguns pormenores de qualidade na muleta e pareceu conseguir entender melhor o que o seu touro pedia. Nesse sentido, actuação em crescendo, apostando na raça e o público reagiu, estando com ele. Com vários momentos a demonstrar forte qualidade.
No final da corrida, apenas António Ribeiro Telles não saiu em ombros. Os restantes 3 toureiros saíram em ombros.
E isto dá a ideia de que na Nazaré, as saídas em ombros valem pouco, porque qualquer um o pode fazer, independentemente do mérito das lides. Apenas Borja Jiménez teve duas faenas bem conseguidas e mesmo assim a saída em ombros seria discutível.
A Praça de Touros do Sítio da Nazaré merece um pouco mais de exigência e não estes ímpetos popularuchos.
Até ao momento em 2024: São 2 corridas de touros e 5 saídas em ombros. Duas na primeira, 3 na segunda. Inadmissível.
Deve a empresa começar a tomar medidas, de forma a controlar estes exageros do público, que acabam por retirar brilho ao bom trabalho aqui desenvolvido.
Corrida dirigida por Ana Pimenta, assessorada por Jorge Moreira da Silva.
Assim, infelizmente na castiça praça da Nazaré, houve 3 saídas em ombros e a ideia de que a exigência nem sequer existe. Lamentável.
Nota: Destaque para o bandarilheiro João Pedro Martins, após excelente par de bandarilhas.